sábado, 15 de setembro de 2012

« A Rosa de Paracelso » - Jorge Luis Borges (1978)



Jorge Luis Borges (1978)
« A Rosa de Paracelso »
CBC, ONCE
(Grabación de la obra en cinta magnetofónica; [1992]; transcripción en este formato,
Dic. 30, 2000; 11:10)
Traduzido para o português em dezembro de 2011 por:
Miraldo Antoninho Ohse,


Correio eletrônico: ohsepoa@gmail.com

Site web:


Blogs:


Em sua oficina, que abarcava as duas salas do porão, Paracelso pediu a seu deus: a seu deus indeterminado, que lhe enviasse um discípulo.
Entardecia. O escasso fogo da lareira produzia sombras irregulares. Levantar-se para acender a lamparina de ferro, era trabalho demasiado.
Paracelso, distraído pela fadiga, esqueceu-se de sua súplica. A noite havia apagado os empoeirados alambiques e o atanor, quando bateram à porta... O homem, sonolento, se levantou.
Subiu a pequena escada de caracol e abriu uma folha de suas portas.
Entrou um desconhecido. Também estava muito cansado. Paracelso, lhe indicou um banco. O outro sentou-se e, esperou.
Durante um tempo, não trocaram uma palavra.
O mestre foi o primeiro que falou.
- Recordo caras do ocidente e caras do oriente; disse, não sem certa pompa.
- Não recordo a tua. Quem és o que deseja de mim?
- Meu nome é o de menos – replicou o outro.
- Três dias e três noites tenho caminhado para entrar em tua casa. Quero ser teu discípulo. Trago-te todos os meus haveres.
Sacou um saco largo e estreito e virou sobre a mesa. As moedas eram muitas, e de ouro. Fez isso com a mão direita.
Paracelso lhe havia dado as costas para acender a lâmpada. Quando deu a volta, observou que na mão esquerda, segurava uma rosa. A rosa, o inquietou.
Recostou-se. Juntou as pontas dos dedos e disse:
- Me crês capaz de elaborar a pedra que troca todos os elementos em ouro; e me ofereces ouro. Não é ouro o que busco. E se o ouro de importa, não será nunca meu discípulo.
- O ouro não me importa. Respondeu o outro. Estas moedas não são mais que uma prova de minha vontade de trabalho. Quero que me ensines a arte. Quero percorrer a teu lado o caminho que conduz à pedra.
Paracelso disse, com lentidão:
- O caminho é a pedra. O ponto de partida é a pedra. Se não entendes estas palavras, ainda não começou a entender. Cada passo que darás é a meta.
O outro o mirou com receio. Disse com voz distinta:
- Mas há uma meta?
Paracelso se riu.
- Meus detratores, que não são menos numerosos que estúpidos, dizem que não. E me chamam um impostor. Não lhes dou a razão. Mas não é impossível que seja uma ilusão. Sei que há um caminho.
Houve um silêncio, e disse o outro:
- Estou pronto a percorrê-lo contigo. Ainda que devamos caminhar muitos anos. Deixa-me cruzar o deserto; deixa-me divisar ao menos (siquiera) desde longe a terra prometida, ainda que os astros não me deixem pisá-la. Quero uma prova antes de empreender o caminho.
- Quando? Disse com inquietude Paracelso.
- Agora mesmo; disse com brusca decisão o discípulo.
Haviam começado falando em latim. Agora, em alemão. O rapaz elevou a rosa no ar.
- É bem conhecido, disse, que podes queimar uma rosa e fazê-la ressurgir da cinza por obra de tua arte. Deixa-me ser testemunha desse prodígio. Isso te peço e te darei depois minha vida inteira.
- És muito crédulo, disse o mestre. Não há necessidade de credulidade; exijo a fé.
O outro insistiu.
- Precisamente, porque não sou crédulo, quero ver com meus olhos a aniquilação e a ressurreição da rosa.
Paracelso a havia tomado e ao falar brincava com ela.
- És crédulo, disse; dizes que sou capaz de destruí-la.
- Ninguém é incapaz de destruí-la, disse o discípulo.
- Estás equivocado, crês porventura que algo pode ser devolvido ao nada? Crês que o primeiro adão no paraíso pode haver destruído uma só flor, ou uma folha de erva?
- Não estamos no paraíso, disse teimosamente o rapaz. Aqui, de baixo da lua, tudo é mortal.
Paracelso se havia posto em pé.
- Em que outro lugar estamos? Crês que a Divindade pode criar um lugar que não seja o paraíso? Crês que a tristeza é outra coisa que ignorar que estamos no paraíso?
- Uma rosa pode se queimar, disse com provocação o discípulo.
- Ainda resta fogo na lareira, disse Paracelso. Se arremessar esta rosa às brasas, crerias que foi consumida e que a cinza é verdadeira. Digo-te que a rosa é eterna e que somente sua aparência pode mudar. Bastaria-me uma palavra para que a vejas de novo.
- Uma palavra! , disse com estranheza o discípulo.
- O atanor está apagado e estão cheios de pó os alambiques. Que farias para que ressurgisse?
Paracelso o mirou com tristeza.
- O atanor está apagado, repetiu. E estão cheios de pó os alambiques. Neste trecho de minha longa jornada, uso outros instrumentos.
- Não me atrevo a perguntar quais são; desse o outro com astúcia e com humildade.
- Falo daquilo que usou a Divindade para criar os céus e a terra e o invisível paraíso em que estamos; e que o pecado original nos oculta. Falo da palavra que nos ensina a ciência da cabala.
O discípulo disse com frialdade:
- Te peço a graça de me mostrar a desaparição e a aparição da rosa. Não me importa que operes com alquitaras (aparelho primitivo de destilação) ou com o verbo.
Paracelso refletiu; ao fim disse:
- Se eu o fizesse, dirias que se trata de uma aparência imposta pela magia de teus olhos. O prodígio não te daria a fé que buscas. Deixa pois a rosa.
O jovem o mirou, sempre receoso. O mestre alçou a voz e lhe disse:
- Ademais, quem és tu para entrar na casa de um mestre e exigir-lhe um prodígio? Que tens feito para merecer semelhante dom?
O outro replicou, tremulamente.
- Já sei que não tenho feito nada. Peço-te em nome dos muitos anos que estudei a tua sombra; que me dixes ver a cinza e depois a rosa. Não te pedirei nada mais! Acreditarei no testemunho de meus olhos!
Tomou com brusquidão a rosa encarnada que Paracelso havia deixado sobre a escrivaninha e arremessou nas chamas. A cor se perdeu; só ficou um pouco de cinza. Durante um instante infinito, esperou as palavras e o milagre.
Paracelso não se havia alterado.
Disse com curiosa simplicidade:
- Todos os médicos e todos os boticários de Basiléia afirmam que sou um enganador. Talvez estejam certos... E aí está a cinza que foi a rosa que não o será.
O rapaz sentiu vergonha.
Paracelso era um charlatão ou um mero visionário. E ele, um intruso. Havia franqueado sua porta e o obrigava agora a confessar que suas famosas artes mágicas eram vãs.
Ajoelhou-se e lhe disse:
- Tenho obrado imperdoavelmente. Tem-me faltado a fé que o senhor exige dos crentes. Deixa que continue vendo a cinza. Voltarei quando for mais forte e serei teu discípulo. E no fim do caminho, verei a rosa.
Falava com genuína paixão. Mas essa paixão era a piedade que o inspirava o velho mestre; tão venerado, tão agredido, tão insigne; por tal razão, tão vazio (hueco).
Quem era ele? Johannes Grisebach, para descobrir com mão sacrílega, que de trás da máscara, não havia nada. Deixar-lhe as moedas de ouro, seria uma esmola. Retomou-as ao sair.
Paracelso o acompanhou até o pé da escada e lhe disse: que em casa, sempre seria bem-vindo.
Ambos sabiam que nunca voltariam a ver-se.
Paracelso ficou sozinho.
Antes de apagar a lâmpada e de sentar-se na poltrona surrada, virou o tênue punhado de cinza na mão côncava e disse uma palavra em voz baixa:
- A rosa, ressurgiu!

 Em espanhol:

En su taller, que abarcaba las dos habitaciones del sótano, Paracelso pidió a su Dios, a su indeterminado Dios, a cualquier Dios, que le enviara un discípulo.
Atardecía. El escaso fuego de la chimenea arrojaba sombras irregulares.
Levantarse para encender la lámpara de hierro era demasiado trabajo. Paracelso, distraído por la fatiga, olvidó su plegaria. La noche había borrado los polvorientos alambiques y el atanor cuando golpearon la puerta. El hombre, soñoliento, se levantó, ascendió la breve escalera de caracol y abrió una de las hojas. Entró un desconocido. También estaba muy cansado. Paracelso le indicó un banco; el otro se sentó y esperó. Durante un tiempo no cambiaron una palabra.
El maestro fue el primero que habló.
-Recuerdo caras del Occidente y caras del Oriente -dijo no sin cierta pompa-. No recuerdo la tuya. ¿Quién eres y qué deseas de mi?
-Mi nombre es lo de menos -replicó el otro-. Tres días y tres noches he caminado para entrar en tu casa. Quiero ser tu discípulo. Te traigo todos mis haberes.
Sacó un talego y lo volcó sobre la mesa. Las monedas eran muchas y de oro. Lo hizo con la mano derecha. Paracelso le había dado la espalda para encender la lámpara. Cuando se dio vuelta advirtió que la mano izquierda sostenía una rosa.
La rosa lo inquietó.
Se recostó, juntó la punta de los dedos y dijo:
-Me crees capaz de elaborar la piedra que trueca todos los elementos en oro y me ofreces oro. No es oro lo que busco, y si el oro te importa, no serás nunca mi discípulo.
-El oro no me importa -respondió el otro-. Estas monedas no son más que una parte de mi voluntad de trabajo. Quiero que me enseñes el Arte. Quiero recorrer a tu lado el camino que conduce a la Piedra.
Paracelso dijo con lentitud:
-El camino es la Piedra. El punto de partida es la Piedra. Si no entiendes estas palabras, no has empezado aún a entender. Cada paso que darás es la meta.
El otro lo miró con recelo. Dijo con voz distinta:
-Pero, ¿hay una meta?
Paracelso se rió.
-Mis detractores, que no son menos numerosos que estúpidos, dicen que no y me llaman un impostor. No les doy la razón, pero no es imposible que sea un iluso.
Sé que "hay" un Camino.
Hubo un silencio, y dijo el otro:
-Estoy listo a recorrerlo contigo, aunque debamos caminar muchos años. Déjame cruzar el desierto. Déjame divisar siquiera de lejos la tierra prometida, aunque los astros no me dejen pisarla. Quiero una prueba antes de emprender el camino.
-¿Cuándo? -dijo con inquietud Paracelso.
-Ahora mismo -dijo con brusca decisión el discípulo.
Habían empezado hablando en latín; ahora, en alemán.
El muchacho elevó en el aire la rosa.
-Es fama -dijo- que puedes quemar una rosa y hacerla resurgir de la ceniza, por obra de tu arte. Déjame ser testigo de ese prodigio. Eso te pido, y te daré después mi vida entera.
-Eres muy crédulo -dijo el maestro-. No he menester de la credulidad; exijo la fe.
El otro insistió.
-Precisamente porque no soy crédulo quiero ver con mis ojos la aniquilación y la resurrección de la rosa.
Paracelso la había tomado, y al hablar jugaba con ella.
-Eres crédulo -dijo-. ¿Dices que soy capaz de destruirla?
-Nadie es incapaz de destruirla -dijo el discípulo.
-Estás equivocado. ¿Crees, por ventura, que algo puede ser devuelto a la nada?
¿Crees que el primer Adán en el Paraíso pudo haber destruido una sola flor o una brizna de hierba?
-No estamos en el Paraíso -dijo tercamente el muchacho-; aquí, bajo la luna, todo es mortal.
Paracelso se había puesto en pie.
-¿En qué otro sitio estamos? ¿Crees que la divinidad puede crear un sitio que no sea el Paraíso? ¿Crees que la Caída es otra cosa que ignorar que estamos en el Paraíso?
-Una rosa puede quemarse -dijo con desafío el discípulo.
-Aún queda fuego en la chimenea -dijo Paracelso-. Si arrojaras esta rosa a las brasas, creerías que ha sido consumida y que la ceniza es verdadera. Te digo que la rosa es eterna y que sólo su apariencia puede cambiar. Me bastaría una palabra para que la vieras de nuevo.
-¿Una palabra? -dijo con extrañeza el discípulo-. El atanor está apagado y están llenos de polvo los alambiques. ¿Qué harías para que resurgiera?
Paracelso le miró con tristeza.
-El atanor está apagado -repitió- y están llenos de polvo los alambiques. En este tramo de mi larga jornada uso de otros instrumentos.
-No me atrevo a preguntar cuáles son -dijo el otro con astucia o con humildad.
-Hablo del que usó la divinidad para crear los cielos y la tierra y el invisible Paraíso en que estamos, y que el pecado original nos oculta. Hablo de la Palabra que nos enseña la ciencia de la Cábala.
El discípulo dijo con frialdad:
-Te pido la merced de mostrarme la desaparición y aparición de la rosa. No me importa que operes con alquitaras o con el Verbo.
Paracelso reflexionó. Al cabo, dijo:
-Si yo lo hiciera, dirías que se trata de una apariencia impuesta por la magia de tus ojos. El prodigio no te daría la fe que buscas: Deja, pues, la rosa.
El joven lo miró, siempre receloso. El maestro alzó la voz y le dijo:
-Además, ¿quién eres tú para entrar en la casa de un maestro y exigirle un prodigio? ¿Qué has hecho para merecer semejante don?
El otro replicó, tembloroso:
-Ya sé que no he hecho nada. Te pido en nombre de los muchos años que estudiaré a tu sombra que me dejes ver la ceniza y después la rosa. No te pediré nada más.
Creeré en el testimonio de mis ojos.
Tomó con brusquedad la rosa encarnada que Paracelso había dejado sobre el pupitre y la arrojó a las llamas. El color se perdió y sólo quedó un poco de ceniza. Durante un instante infinito esperó las palabras y el milagro.
Paracelso no se había inmutado. Dijo con curiosa llaneza:
-Todos los médicos y todos los boticarios de Basilea afirman que soy un embaucador. Quizá están en lo cierto. Ahí está la ceniza que fue la rosa y que no lo será.
El muchacho sintió vergüenza. Paracelso era un charlatán o un mero visionario y él, un intruso, había franqueado su puerta y lo obligaba ahora a confesar que sus famosas artes mágicas eran vanas.
Se arrodilló, y le dijo:
-He obrado imperdonablemente. Me ha faltado la fe, que el Señor exigía de los creyentes. Deja que siga viendo la ceniza. Volveré cuando sea más fuerte y seré tu discípulo, y al cabo del Camino veré la rosa.
Hablaba con genuina pasión, pero esa pasión era la piedad que le inspiraba el viejo maestro, tan venerado, tan agredido, tan insigne y por ende tan hueco.
¿Quién era él, Johannes Grisebach, para descubrir con mano sacrílega que detrás de la máscara no había nadie?
Dejarle las monedas de oro sería una limosna. Las retomó al salir. Paracelso lo acompañó hasta el pie de la escalera y le dijo que en esa casa siempre sería bienvenido. Ambos sabían que no volverían a verse.
Paracelso se quedó solo. Antes de apagar la lámpara y de sentarse en el fatigado sillón, volcó el tenue puñado de ceniza en la mano cóncava y dijo una palabra en voz baja. La rosa resurgió.




Nenhum comentário:

Postar um comentário